PORTANTO AQUI APRESENTO ALGUNS DOS MEUS TRABALHOS.
da CAIXA Sonhos Inventados
SONHO 1
Eu estava voando
ao lado de meu irmão
Num desses trajes
próprios para voar, estávamos muito alto
De lá víamos as
nuvens abaixo de nós
E o horizonte
arredondado da terra
E fazia um sol branco
Eu não conhecia o
equipamento e meu irmão de braço dado comigo Dava-me instruções gritando, foi
quando ultrapassamos as nuvens
E eu assustado
percebi que estava sobre um oceano sem fim
Vi um ponto preto
que meu irmão disse ser uma ilha que eu conhecia
A ilha foi crescendo
a meus olhos
Era comprida com
uma das pontas maiores como um espermatozoide
Pousamos como uma
pipa na ponta fina da ilha, era só areia
Tiramos as roupas
de voo e ficamos nus
Ali tinham umas
poucas palhas de coqueiro pretas, velhas e molhadas
Ele disse que
iríamos precisar delas pegou duas e fomos
Como eu conhecia
segui na frente pelo istmo
Com ele atrás
arrastando as palhas
Enquanto a maré
subia e as ondas começaram a cobrir o caminho
Assim que
passávamos
Na ilhota maior a
nossa frente subia uma montanha que escalamos com facilidade além de pouco alta
era de barro com mato baixo
Quase no topo
tinha uma caverna redonda, como fosse escavada pelo homem que dava para passar
para o outro lado,
Meu irmão largou
as palhas no seu interior
Fomos admirar a
paisagem do outro lado
Era muito alto
mas de lá víamos uma vila de casas de madeira
Só no esqueleto,
sem paredes
A decida era
muito íngreme e eu conhecia os segredos da decida
Fui por um
caminho que se descortinava à medida que dava cada passo
Quando chegamos
lá em baixo estávamos de calção e camisas de botão, Passamos por uma rua de
terra onde havia poucas casa
Mas elas não
tinham paredes
Víamos seus
moradores tomando banho nas banheiras,
Cozinhando e
vendo TV.
SONHO 2
Estávamos eu e o
Job em um planeta que eu nunca havia estado antes
(Na verdade eu
nunca estive em outro, não que eu lembre)
Era uma grande
planície de barro que o vento havia esculpido
Estava de
sobretudo, fazia frio e o sol apontava no horizonte
Tudo era vermelho
Estávamos à beira
do leito de um rio a muito instinto
Seu leito
desenhado pela água e vento, estava a uns 20 metros de profundidade
E sua margem era
muito íngreme e havia a nossa frente uma agulha formada pela erosão
Job, para
aparecer, resolveu pular para ela e ficou em um pé só, não havia espaço para o
outro
Aborrecido pedi
para que retornasse, tenho muito medo de altura, e vê-lo naquela condição me
assustava.
De volta Job me
mostrou o caminho invisível para descer o penhasco
Rapidamente
estávamos no leito seco do rio
O fundo do rio
seco havia sido esculpido suavemente pelas últimas águas ou quem sabe o vento
E assim
adormeceram até agora que iríamos passar
Dali dava pra ver
a direita um afluente, foi por ele que Job me guiou
Um pouco a frente
um frontal de um prédio esculpido no barro
Parecia uma
igreja mas quando nos aproximamos era uma espécie de olaria
Quatro
prateleiras de madeira tosca se alinhavam perpendiculares à porta
Indo até o fundo
da sala a uns seis metros de distância
Com um teto de
uns três metros subiam até lá
As prateleiras
largas estavam apinhadas de olas
Eram pratos copos
tigelas grandes e pequenas umas por dentro das outras
Quartinhas potes
vasos em grande quantidade
No fundo uma
parede quebrada dava vista para um terreiro grande que terminava em um penhasco
a uns duzentos metros
Segui pelo
corredor até o fim das prateleiras perto da parede quebrada
Olhei para a
direita e tinha ali uma parede quebrada no formato de porta
Para além dela
uma sala com um piso mais alto no meio da canela
Segui até poder
colocar a cabeça pela fresta
Nesse instante
Job chegou pelo outro corredor
Era uma sala
comprida mas estreita, dois por seis
No fundo uma
bancada de madeira rústica
Algumas olas
sobre a mesa e a frente um senhor
Vestia uma bata
de linhão até o chão, marrom claro com uma barra de dois palmos, vertical,
central, marrom café
Virou e vi que
era um ser daquele planeta
Era idoso, e não
tinha nariz como o nosso eram duas pequenas fendas verticais
Seu olhar era
doce e me senti muito seguro em sua presença
Transmitia a paz
dos justos e sábios
Ele largou seus
afazeres e andando lentamente veio em minha direção.
SONHO 3
Estava em uma
sala grande usada para ensaios de dança
Sentado no chão
num canto próximo a janela
Era daqueles dias
claros um sol lindo e branco
Sol de inverno entrava
pela janela
E transparecia
pelas alvas cortinas
Piso de madeira
lustrado
Estava em paz,
Um professor
muito novo me explicava sobre arte
Dizia que a arte
curava as mazelas do espírito
Organiza as
coisas dentro da cabeça
Que eu cuidasse
de como iria usar esses dons numa sociedade adoecida
PALHAÇO
TRISTE
Procurei
com os olhos para encontrar
Enquanto
a multidão se acotovelava
Não
conseguia localiza-lo
Mesmo
assim insistia
Era um
mar de gentes,
Para
ver o espetáculo do palhaço triste
Seria a
última apresentação
Dizia-se
a época que devia ser uma jogada de marketing
Mas eu
acreditava, e parece-me não estava só
Depois
das explosões dos fogos de artifício
Ele
apareceu... Entrada triunfal
O QUE
MEU PAI VAI DIZER
Em
tempos imemoriais casavam apenas pares de iguais
Então
eu disse ao meu marido que estava doente
Haviam
aparecido erupções em meu pais
E três
dos meus cílios haviam caído,
Antes
eram cinquenta e nove
Com os
olhos arregalados
Agarrou-me
pelos ombros
Um rio
desceu sua face
Falei
confuso “você é heterossexual...”
Tive
certeza o silêncio
Ao
acreditei... Logo o meu marido
Podia
ser o do vizinho, mas não tinha de ser logo o meu
O
quadro sintomático correspondia ao padrão
Mas
ainda assim era necessário fazer os testes
Ele não
queria... Mas o obriguei
Não
podia ter dúvidas
O que
eu iria dizer ao meu pai
DÓI
As coisas não são
mais comuns como antes
Nada mais como
antes
Deixei de fazer
tudo o que lembra
Ou seja, quase
tudo
Até sorrir, que
já me era um pouco raro
Sinto uma saudade
tão grande
Que doem as
pernas
Dói o corpo
Dói tudo
MEU MENINO
Era o deserto da
alma
O céu perdia azul
Os tênues tons do
poente, não me interessavam mais
Só um tiro
Meio segundo
Talvez um quarto
Talvez menos
Três dias depois
da morte
O ar... Óleo
grosso sufocava
Ar...
O meu menino
Impossível viver
sem ele
Rios na face... Na
cara suja... Na barba por fazer
O estomago
roncava insone... Pão com manteiga
Arroz, feijão...
Música, Van
Gogh... Cheiro de lingüiça
Cerveja... Moto,
sotaque nordestino
Cheiro de
criança... Obra, adrenalina
Briga...
Revolver... Água mineral
Todos os segundos
são teus meu menino... Pra sempre
Nasceste de todos
os ventres da Terra
Te contei como
era amar no meio dos labirintos
Nu o coração
exposto não pude te proteger
Exposto aos
azares lutou sozinho
Assim o queria,
eu não
Mas não
precisavas de mim
Era inteiro só
Gea aconchegadamente
Em teu colo
menino
Não o deixe mais
se atormentar mãe
Ama-o como a um
filho especial
Que só soube amar
como tu
Devorando os seus
amados
ALGUÉM
Quando
a cabeça dele explodiu
O
barulho não assustou ninguém
A
mulher que estava sentada ao seu lado no ônibus
Reclamou
dos respingos de sangue em seu vestido
Isso já
estava se tornando mais que comum na cidade
Todos
os dias eram registrados centenas de casos na delegacia especial
Era
calmo e bom como a maioria
Casado
e com dois lindos filhos
Trabalhava
muito para poder refazer as suas estruturas mentais
Trepava
três vezes por semana
Sempre
as terças, quintas e sábados, sendo que a de sábado era um motel pulgueiro
perto da sua casa
Às
vezes com a esposa, às vezes com putas da Praça Tiradentes
Uma vez
por mês deixava as crianças com a sogra
Pra
passear com a patroa
Todo o
dia lavava atrás da orelha
Escovava
os dentes como o dentista ensinou
Cortava
as unhas regularmente
E o
momento da explosão estava com o cabelo impecavelmente peteado
Coisa
que não abria mão
No
ônibus alguém remexeu seu bolso para identificá-lo
Soube-se
então tudo sobre ele
O
governo já dava sinais de preocupação com o assunto
A pequena bola
azul
Estava lá
abandonada
No fundo do
quintal
Esperançosa de
ser encontrada
Por alguém
moleque
Ela sabia que
dali a pouco
Seu dono chegaria
da escola
E aí como em toda
a sexta feira
Reinaria absoluta
na pelada
Mas isso ao invés
de acalma-la
Tonava-a mais excitada
Já não distinguia
os sons dos passos do seu dono
Confundia sua voz
Com a de qualquer
moleque da rua
O MENINO SOL
Era como se
pudesse tocá-lo
Mas sempre me
disseram
“Não vá aí
menino! Você vai se machucar!”
E eu olhava ele
descendo no horizonte
Era todo meu...
Só meu
Um dia
Resolvi que ia
pegar ele pra mim
Juntei a sacola
da feira
E ganhei a rua
Pedi a escada do
seu Antenor
Era a mais grande
da rua
E segui para o
horizonte
De hoje ele não
ia escapar
O JARDINEIRO
À noite a tempestade
castigara as plantas
O jardineiro
acordado
Assustava-se a
cada rugir
Sabia que suas
meninas sofriam
Pela manhã o Sol
sorriu e coloriu tudo
Agora reparar os
estragos
Cara de moça em
fim de festa
Os jardins
centrais sofreram pouco
Perderam folhas,
o vento levou flores
Outras foram
despetaladas
Quanto aos
jardins da parede frontal
Nada sofreram
Ele protegeu dos
ventos fortes da noite
A não ser pela
terra encharcada
Nada que causasse
preocupação
De um modo geral
Os estragos foram
menores que os esperados
Mesmo assim
Ainda deveria ser
feita uma avaliação minuciosa
Nos jardins havia
flores frágeis
Poderiam sofrer
sequelas
Suas aflições
giravam em torno da roseira
No canto da cerca
Era nova e sofria
traumas constantes
Com o buliçoso
dos passantes
Estava apreensivo
O vento
canalizado pelo canto da casa
Não fora um bom
local o escolhido
Estava minguada a
bichinha
Quase
completamente desfolhada
As que resistiram
estavam magoadas
As poucas rosas,
quase completamente despetaladas
Um dos quadros do
caos
Os galhos tristes
pendiam para o chão
De seus galhos
lágrimas de céu
Procura aflita
pelo pequeno botão que havia ali
Baixou
Tocou o galho
quebrado apoiado a cerca
O final o botão
de esperança
Afinal era o caos
Deus sabe como
resistiu
Acariciou com as
pontas dos dedos
“Não tenha medo
minha bichinha...”
Dias de atenção
Água medida
A terra não podia
ser mais encharcada
Colocou uma tala
no galho
Amarrou com fitas
de linho
Inseticidas,
pesticidas e adubo
Como a natureza
pode ser tão rude?
Uma a uma, todas
as folhas caíram
O botão resiste
verde
O jardineiro
cantava e contava boas histórias
Não a deixava sem
assistência
Às vezes contava
piadas
Longe... Ficava
triste
De pensar no
sofrimento
Temia que não
tivesse retorno
Parecia o fim...
Suicídio
Depois de um
tempo, os brotos
O jardineiro
regozijou
Cantou e dançou
Num ritual
comovente e esdrúxulo
Cantar e dançar
em frente a uma roseira
A natureza humana
O botão
Teimava
A tempestade se
distanciava três meses
Vestira o verde a
roseira
O botão intrigava
o jardineiro
Outros começaram
a surgir
Mas com o tempo,
todos ao passaram de botões
Foram e serão
eternamente
Botões
O CAÇADOR DE
PÉROLAS
Por Ângelo e
Mário
A vida para ele
era o mar
Do penhasco via o
oceano
Uma brisa brinca
de fazer em seus cabelos
Uma janela é
aberta para qualquer lugar
Pra paisagem, pra
passagem, pra paixão
E o mar, ali
perto, ruge como um leão líquido
Silêncio louco e
infinito
O Sol ardia em
seu corpo
Como num culto a Posseidon
Entrega seu corpo
ao vento
Num ritual nas fronteiras
entre a vida e a morte
Vertigem...
Graça... Albatroz
A água envolve
seu corpo
A vida também
Poderia navegar
em barcos como todo mundo
Mas preferia
desvendar os mistérios do mar sem segurança
Com todos os
riscos, sem dar pé, sem a rede do trapezista
Ostras sua maior
paixão
Dentro delas as
pérolas...
Igual como a vida
Fechadas,
misteriosas, escondidas um fundo de mar
Insondável...
Misterioso
Oceano de vidas
Tudo deverá ser
calculado com precisão
Respiração,
velocidade e descompressão
Descendo braço a
braço
Descortinando,
penetrando... Aprofundando
Azuis... Piscina,
del rei, marinho
Com todos os
sentidos
Pérolas
PASSAGEM
Abriu as assas
e... Azul
Alçou voo
Foi embora
Foi indo
Foi
Tchau...
Saudade
LUZ PRÓPRIA
Luz própria
Eu não era nada
Mas ele
Tinha luz própria
Quando andava
Emitia uma luz
azul
Era como mamãe me
contara
Um dia ele viria
E me tiraria
dessa solidão
Mas ele me deu um
murro
E um fio de
sangue
Escorreu pelo
canto da boca
Não chorei
Por que eu havia
passado
Toda a vida
Esperando
Levantei-me
Limpei o sangue do
canto da boca
Ajeitei o cabelo
e sorri feliz
Ele havia chegado
PORQUE OS
PÁSSAROS VOAM E EU NÃO POSSO?
Da favela vendo a
cidade lá em baixo
O menino pensou
Por quê?
Foi na mãe que estava
na beira do tanque e puxou sua saia
Falou “por quê?”
Atônita a mulher
lhe deu um beijo e o mandou brincar
Procurou o pai
que estava trabalhando na obra
E de novo
perguntou “por quê?”
O pai deu-lhe um
cascudo e sorriu
Foi assim que
Dinho foi parar lá na pedreira
Tinha nos braços
aramado com linha dois
As maiores pipas
do morro
Eram gigantes
A rabiola amarrou
nos fundilhos do caução
Dali mesmo se
jogou
Ontem foi o
enterro
E o pai dizia que
a última palavra foi por que
PAPAGAIOS
Pela janela do
quarto
Dava pra ver a
pipa
Que bailava o céu
Vestida de
vermelho e azul
Rebolando como na
dança do ventre
Me seduzindo com
seu bailado
Regular e
inconsciente
Vez por outra
Arriscava
passeios no azul infinito
Me convidando a
viajar pelos céus
Nunca dantes
avoados
Enquanto observo
Outra vem ao seu
encontro
E os velhos
flertes se repetem
Voam em bandos as
pipas
Na tensão dos
fios
Executam outra
dança
A do acasalamento
Espécies não
raras
Tem seu habitat
natural o subúrbio carioca
São cativas de
meninos descalços
E nanicos de
subalimentação
Muito longe da
extinção
Reproduzem-se de
forma vertiginosa
Aparecem as
centenas, quiçá milhares
Nos céus cariocas
Mas não se
assuste
São tratadas como
rainhas nas mãos sujas desses moleques
Dignas de rituais
de verdadeira adoração
E as noites
habitam seus mais íntimos sonhos
Guerreiras
Se cotorcem e se
cruzam
Até o sacrifício
fatal e inevitável
Moribunda
Sua queda é
observada atentamente
Por mil olhos
cobiçosos e brilhantes
Mas não se
entristeça
Faz parte de sua
sina
Triunfal e vulgar
Cai dos céus
Para ressuscitar
nos braços de outro amante
Magricelo,
barrigudinho e feliz
OUTRA MARGEM
Eu amava meu
deserto
O meu cotidiano
Sentado a margem
do rio Lamaçal
Olhava a outra
margem
Era como uma sina
Lá, tudo era tão
verde, vivo
Aqui tão árido
Ainda assim amava
meu pedaço
À tardinha vi outro
daquele lado
Adrenalina,
taquicardia, medo
Escondi-me atrás
das pedras
Não dava pra
distinguir as feições
Naquela noite não
dormi
Coloquei meus
trapos na margem
E vigiei...
Vigiei... Vigiei...
A cor assustou a noite
Em pouco tempo o
azul ganhou o céu
Eu lá olhando
Quando ele
Apareceu fiquei
em pé
Minhas pernas onde
estão?
Abanei os braços
Gritei
Não fui notado
Meu coração ansioso
Foi muito ruim
Mais outro dia e não
fui visto
Não sabia mais o
que fazer
Fazia dias que não
comia
Eles escorriam
para o rio
Para o Lamaçal
O meu deserto,
como pude esquecer
Sabia nadar
Mas não conhecia
o rio
Não tinha bom
fôlego
Parecia muito
fundo a correnteza poderia me levar
Depois disso
Algumas vezes
entrei no rio
Banhei-me e saí
Como posso
esquecer
Um dia... Ele me
olhava enquanto me banhava
Cobria o rosto
tapando o Sol
Olhei, acenei,
ele respondeu
Meu coração feliz
não parava no lugar
Não tinha mais
lugar no peito
Eu chorei
Nem o via todos
os dias
Quando não
aparecia não comia
Vigiava, vigiava...
Quando aparecia
cedo
O dia era Sol...
Cor
Só era Sol e cor
de tarde, quando aparecia
Quando
aquele homem sem cabeça entrou
Em
principio achei muito desconfortável
Com o
tempo, me acostumei
Já
havia ouvido falar deles
Mas
nunca havia visto nenhum
Lembrava
vagamente
De
conteúdos aprendidos no ensino médio
Evolução
das espécies, adaptação dos corpos
A
natureza é sábia
Pedi-lhe
“sente-se”, ao que prontamente atendeu
Conversamos
durante algum tempo
Em
princípio timidamente dadas às circunstâncias
Ao
final ríamos com intimidade
Pela
maneira como se comportava
E como
desenvolvia seu raciocínio
Tudo
era de “sins” e “nãos”
Algo
complexo como... “talvez” causava sofrimento
Por
isso falávamos sempre de amenidades
Ah sim me
esqueci de falar, viramos amigos
Falávamos
de novelas, confesso que às vezes até assistia
Futebol,
peito e bunda, peito e bunda, peito e bunda...
Sempre
chegava na hora ao trabalho
Trabalhou
na mesma empresa durante anos
Saia de
casa às quatro horas da manhã
Pega
trem lotado, chega ao trabalho senta e faz a sua parte
Onte
ontem fui ao enterro dele
No
cemitério conheci sua esposa sem cabeça
Reclamou
que falava sempre pra ele parar de comer tanto
Glicose
alta, diabetes... Enfarto provocado pela obesidade
Findo
os rituais
Fui ao
bar beber uma cachaça pelo falecido
Notei
que havia alguns sem cabeça no local
Sentei
num canto e logo um deles se aproximou
Pedi-lhe
“sente-se”, ao que prontamente atendeu
Ao
final ríamos com intimidade
Hoje
percebo
Eles
são todos um só... Só querem se divertir
Tem a
mesma opinião sobre tudo...
Novelas,
futebol, peito e bunda, peito e bunda, peito e bunda...
É o fim
E sobre a folha
Delicada e
deliciosa
Suculenta e leve
Recortava
Com prazer e
paciência
Pequenos nacos
De êxtase
Dia a dia
Minha felicidade
morava ali
Construía minha
história
Devotadamente
Comendo
Tudo era assim
Simples
Até que
Marbella a
borboleta
Apareceu
Com suas asas
E arrogância
Enormes
Disse:
"Se você continuar
Comendo assim
Quando for
Uma borboleta
Será uma
Gordoleta!
Será uma
Gordoleta!
Não vai
Conseguir sair
Do chão"
Filha da puta
Idiota
Odeio as
borboletas!
Tracei uma meta.
Nunca
De jeito nenhum
Serei uma
Tenho investido
Na ideia
De que não quero
E não preciso
Virar essa
merda!!!!
PARA A LUA
Foi salvo em lugar inóspito
Deserto... Deserto... Sem nada
Apesar de ser
Estranhamente bonito
Era diferente
Apavorado...
Depois de algum tempo
Descobri.
Eram poucos daquela espécie
E ele perdeu a noção de proporção
Com o tempo deixou de reconhecer
Tentativas de aproximação
O que teria acontecido?!?!
Por que montara guarda?
Tinha sido salvo há poucas horas
Enquanto isso...deserto...deserto...sem nada.
Olhar assustado
Tudo que lhe parecia ameaçador
Parecia de louça... Porcelana... Argila sem forno.
Sempre soube
Que eles sabiam voar
Mas ele permanecia ali
Sem alçar voo
Era mais seguro!!!! ????
Uma noite
Já havia se acostumado com a minha presença
Peguei sua mão com muito cuidado
Carinho de porcelana
Ele me olhou
Apontei a lua
E levemente saímos do chão
Em sua direção.
PEQUENAS
LUZES
Chega uma hora
Depois de muito sofrimento
Depois de muitos desenganos
Que não nos permitimos mais arriscar
Não nos permitimos mais errar
Não nos permitimos mais...
Aquele salto do alto do penhasco fica para os
outros
Eu tenho vertigem
Nós já sabemos tudo
Já passamos por tudo
Já aprendemos a lição
Conhecemos a vida
Já assistimos a esse filme
Já metemos a mão em cumbuca
Já fomos escaldados
Meu consolo é teu olhar
Aquela cara boba
Sorriso gentil
Me faz dormir tranquilo
REMÉDIO
Eu queria ter um remédio
Que curasse dor doída de coração partido
Que conseguisse curar esse trinco
Talvez uma cola
Algum tipo de amálgama redentora
Um unguento reparador de pontas quebradas
Um simples “bandeide colatudo”
Gostaria de poder com o toque das mãos
Com aponta dos dedos de ET
Remover traição, desleixo, aridez.
Só a espera cura...
Eu espero.....
PASSARINHO DODÓI
Todas as manhãs
Abro a janela e olho a rua
De uns tempos pra cá
Deu de pousar um passarinho
Na amendoeira em frente à janela
Tinha o encanto daqueles que o passarinho tem.
Era tão lindinho.
Dava uma vontade de apertar...
Mas ele nem me notava
Ele era um passarinho...
De cara assim...
Como qualquer outro.
Mas, tem um voo diferente
Eu o observo, de longe
Mas ele nem tchuns pra mim.
De tanto olhar.
Achei que não tinha olhado bem
Que ele não era como os outros
Voa diferente
Por que em sua patinha tem um machucada.
De lá pra cá
Toda a manhã
E peço a Deus que sua patinha cure
Mas tenho medo
Que depois de curado
Ele consiga voar direito,
E voe pra longe de mim.
VIDA INTERA
Quando ele me tocou
Era a primeira vez que sentia
Aquela sensação
Pelo meu corpo
Descarregou alta voltagem
Que marcou meu coração
Inda era muito menina
Por isso não permiti
Mas aquela sensação esquisita
De cosquinha sem risada
De gostoso sem gargalhada
E nunca mais esqueci
Enquanto ia crescendo
Muitos homens conhecendo
Nenhum me tocou igual
Cansada de tanto desengano
Meu coração foi secando
Guardei inútil órgão
No canto escuro do baú
Depois já mulher feita
Ainda por ser eleita
Por um homem que o valha
Ele veio se achegando
E assim se debruçando
No meu coração de magoado
Em noite de lua cheia
Os gato miando no telhado
Esse menino entrou pé ante pé
Pela porta da sala
Sem ser convidado e sendo
Meu coração esperando
Por aquele toque igual
Foi direto no baú
E sem vasculhar nem nada
Foi no canto exato
acariciando meu coração que não estava mais tão só
VIDA NADA
ele tinha bebido demais
era assim todos os dias
fedia a cachaça
mas eu o amava assim mesmo
eu podia concerta-lo
mas já estava cansada
mais uma vez ele passou a porta
gritando vociferando
meus filhos correram a me rodilhar
ele berrava que não dava para entender
jogou o pratos no chão
agarrou minha mão e me arrastou pelo corredor
me jogando na parede da sala
meus filhos gritavam em volta
voltei como uma leoa
mas ele era mais forte
meus meninos se agarraram a ele
“Filho da puta...vai bater na puta que o pariu”
“Pai! Pelo amor de Deus não faz isso”
Nos te amamos pai
Não faz isso!"
Era um homem muito infeliz
Foi aí que ele pegou minha filha pelos cabelo
Os gritos dela me ensurdeciam
Todos gritavam era o inferno
meu corpo doído estendido no chão
meu choro miúdo
tapa...
soco na barriga
meu corpo sendo arremessado
meu coração magoado
meus filhos
o desesperados
o choro
meu corpo doido
ele me sacudia
mais um tapa
ele sempre me deu solavancos e empurrões
Só me lembro de que o motivo era qualquer coisa
A sensação de abandono
Eu estava cansada...
Reagi furiosa...cafajeste filho da puta!....
Toda minha vida estava ali
Havia brigado com o mundo para casar com ele
Uma vida segura.
Até ele se acalmar e ir dormir na sala.
VIDA MEIA
Os menino tinha que fica
O meu menor mal sabia falar
Mais a madama disse que era sem criança
De noite ontem
Fiz angu e falei com Uoshito
Tudo que tinha que fazer com Daiane
“cuida bem de tua irmã
dá a comida dela na hora certa
não dexa ela na rua que pode ter bala perdida
aí ele morre e vai pro céu
o caminhão passa na viela e mata ela
tu não qué isso né?
atende a dona zulmira
já disse a ela que ela pode de passa o coro
liga a televisão e se distrai
fica brincando com toco de pau”
passei o dia todo pensando nos meu
dona Claudete é muito insigente
mas assim mermo
ela tem razão, criança mexe em tudo.
E os meu não são fácil não
De noite eu subia as viela.
E lá em baixo do morro.
O Quim falou na birosca
Que tinha um menino morto de bala perdida lá em
cima desde cedo
Meu coração quase saiu pela boca
Subi a favela aos saltos
Falei com Deus e Nossa Senhora
Meus menino
Que tanta gente era aquela na viela
De longe vi dona zulmira desesperada
Em frente a um menino
As lágrima descia
Mas quando cheguei mais perto vi
Não era o meu
Era o da Zulmira graças a D...
Amanhã cedo eu volto pro trabalho
Tenho que entrar para fazer o angu.
O GIGANTE E A ROSA 26/09/2018
Eu nasci no tempo
Em que havia gigantes
Que andavam pela terra
E as rosas falavam.
Lembro-me bem de um deles
Destruiu algumas estradas
E quando tinha sede
Acabava com o lago da
cidade
De todos os que conheci
Era o mais bonito
Cabelos encaracolados
E sorriso fácil.
Talvez não fosse bonito
Mas seu coração
Cativava a todos
com quem se relacionava
com todo o seu desajeitado
ele era o único que via as
rosas
lembro que vi da varanda
quando ele ajoelho
e sentado na relva
E com suas mãos
gigantescas
Acariciava a roseira
Por um momento Pensei
Ele vai estraçalhar a coitadinha!
Qual nada, conversava com
ela Delicadamente
Ria as gargalhadas
E voltava a acariciar suas
pétalas
Com um sorriso apaixonado
Por um descuido
Seu dedo gigante
Resvalou por um galho
E encontrou num espinho
De imediato puxou a mão
Despetalando uma rosa
Segurando o dedo e olhando
a rosa
O gigante chorou
Virou de costas para a
rosa
Sentado na relva
Suas lágrimas
Viraram um rio
Que regou a roseira
Depois deitou
Ao lado da roseira
E dormiu protegendo
Com a mão a roseira
Para transformar
A poesia
em ciência
Vamos trabalhar
Com as
evidências
Já que
não posso explicar o amor
Pensei
que talvez possa explicar
Pelo seu
resultado
Observando
o que acontece comigo
Quando
vejo seus olhos,
Meu corpo
e tomado por um prazer
É uma
alegria tonta.
Quando
ouço tua voz,
É assim
como se fosse a música
Que eu
mais gosto tocada pra sempre
Se eu sei
que você está na no mesmo bairro,
Na mesma
cidade,
No mesmo
planeta que você, isso me faz rir
Só saber
que algum dia vou te encontrar
Alimenta
meu coração de esperança,
Mas se eu
souber que vou falar contigo amanhã,
Desde
hoje meu coração fica em festa,
Amanhã
vou acordar no meu melhor eu.
Estranhamente
fico triste
Quando de
longe imagino
Que você
não está bem.
Quando você
briga comigo
Parece que
o mundo acabou
O céu
fica cinza e o sol apaga
Sinto saudade
de ti ao seu lado
INIMIGO OCULTO
Caminhávamos pelo deserto
Nós e aquela maldita pipa
d’água
É certo que ele era muito
mais forte
Que carregaria a pipa com
muito mais facilidade
Mas ele precisava estar
descansado
Para enfrentar os ataques
dos ladrões
Ele havia me contado o
quanto eram cruéis
Quando íamos pegar
frutinhas das ervas
Para ele comer ficar mais forte
Subíamos o terreno
pedregoso da colina
Eu podia soltar a pipa, nem
sempre eu podia
E colocar o peso da pipa
no chão.
Nunca vi nenhum deles, os
ladrões
Mas eles viviam e
espreitar nossa caminhada
Às vezes percebia seu
movimento entre as pedras
Mas ver mesmo, eu nunca vi
É certo que ele bebia muito
mais água do que eu
Mas precisava
Ele nos protegia do mal
Não sei o que seria de mim
sem ele.
MINHA CASA É PEQUENA
MAS MEU CORAÇÃO UM PALÁCIO
A primeira vez que visitei
meu coração
Faz muitos anos... Muitas
dezenas de anos
Era uma casa linda
Cheia de fru frus com dois
quartos e outras coisas
Onde se acomodavam
perfeitamente
Um grupo de quatro pessoas
Mas com o passar dos anos
Percebi que alguns já se
acomodavam na sala
Enquanto outros esperavam
na varanda
Resolvi então ampliar meu
coração
E construí mais quatro suítes
Com o passar dos anos
aquele pequeno coração
Virou um palacete onde
aconchego
Minha família, meus amigos
e meus amores
PERFIL
Ele era daquelas pessoas
que tem o poder de colorir
as coisas.
Algumas pessoas quando
chegam vão espalhando luz,
por que elas são assim
meio.... luminosas...
Assim era ele para mim...
Lembro a primeira vez que
o vi,
era somente uma foto de
alguém desconhecido
tinha visto num perfil do
facebook...?
Lindo!
Eu pensei... O que eu faço?
Aquele sorriso de covinha,
olhos de criança sapeca
procurando em que mexer
os olhos brilhantes feito
dois faróis
Me rendi
Pedi para ser amigo de uma
pessoa
que eu nunca tinha visto
Muito sem graça esperei
E ele me responde que sim...
O mundo é lindo! Ele
aceitou...
Legal! E agora... Agora...
OURO EM PO
Morava numa caverna aonde
guardava minhas riquezas
Era lindo o meu lugar
com o rio passando na
porta
D aporta da caverna
precisava descer entre as pedras até o fundo
deixando o ambiente bem
fresco.
Tinha uma panela velha,
alguns gravetos de madeira
para o fogo
e um trapo de roupa que
mais parecia pano de chão,
mas no cantinho da caverna
guardava num embrulho de
papel com ouro em pó
A muitos anos guardava ele
ali, era minha segurança
Com toda a dificuldade que
enfrentara, e não foi pouca,
Guardava aquele ouro em pó
no papel de pão
cabia na palma de minha
mão.
Um dia olhei o horizonte e
vi uma tempestade que se aproximava
Nunca vi algo tão violento
e escuro.
Muitos raios clareavam o
céus
Era um movimento... Diferente...
Muito estranho
Entrei na caverna e fiquei
ali quietinho
O tempo passou mas a
tempestade não, a tempestade piorou muito
Raios e trovões de braços
dados com uma ventania insana
Invadia a caverna,
Com medo fui ao portal de
entrada
o rio se preparava para
invadir a caverna violentamente
corri para salvar minhas
coisas
minha panela e meu
saquinho de ouro em pó
procurei um bolso mas não
tinha,
estavam todos rasgados
coloquei o saquinho de
ouro em pó no meio da mão
enquanto subia a água se
esgueirava
procurando brechas entre
as pedras
apertei meu saquinho de
ouro contra o peito
Saí...
Era uma ventania que me
sacudia a pele
a chuva encharcava minha
alma
rápido ganhei as pedras
pra subir o morro
já tinha criado muitos
córregos que machucavam a terra
Na mão o papel de pão se
desfazia
me dificultava subir a
montanha para me salvar da torrente.
Finalmente salvo no alto
da colina
Um raio rasgou o céu
E uma lufada de vento me
tirou os pés do chão
Pra não me machucar, abri
a mão
E o vento feroz rugia tirando
de mim o saquinho
Cai na lama
Ainda vi num prevê instante
o papel e um leve dourado no ar.
Chorei...
PARA MINHA IRMÃ INÊS
Não me peça pra dizer tchau agora.
Eu ainda quero sentir o gosto do cafezinho na tua cozinha,
Quero muito caminhar a teu lado nas calçadas de Realengo,
Ainda quero ouvi-la falar com gravidade sobre política
E nos orientar sobre os melhores caminhos a seguir
Agora não! Não me dê tchau.
Poderemos ainda nos encontrar na porta da igreja antes da missa
Ou fazer um lanchinho depois,
Rir das bobagens que falamos no quintal da sua casa,
Ou das conversas séria nas muitas reuniões políticas que lá participamos
Ainda é cedo, fica mais um pouco minha irmã.
Ainda tem um parque pra fazer,
Umas crianças lá na Ligth sem leite,
Tem muita escada pra subir com essa sua super bengala,
E tem eu minha irmã,
Que ainda tenho tanto a aprender contigo.
Mas eu sei minha irmã, está na hora de descansar
Deus manda chamar os bons, Ele está tendo muito trabalho lá,
Ainda mais com aquecimento global vindo ai.
A saudade será dura, mas breve, daqui a pouco a gente se encontra
E coloca em dia aquele cafezinho
vai com Deus minha linda, até logo, paz e bem.
PARA ZINDA
Olá minha irmã
Sei que não está mais aí
Não que não pode mais ler minhas mensagens
Mas sei também que tu vais receber minhas energias
Obrigado minha linda por tudo o que fez por mim
Pela sua amizade que estendeu a minha família
Nunca foi nada extraordinário
Sempre foi uma chácara de café e uma conversa na varanda com cachorros gatos e galinhas em volta
Mas assim foram meus filhos e meus netos na casa da Zinda.
Parece poço né mana, mas foi sempre o maior presente.
Essas pequenas coisas forjaram no coração de minha família, a importância da amizade e do amor.
Da parentada escolhida, da importância da solidariedade.
Sei que está bem junto de Deus e teus pais.
Te amo. Nos vemos!!! Beijos saudosos.
20/01/2023